SUBSTANTIVOS – NOUNS
Caso possessivo – Possessive Case
(pə´zesiv keis)
Em antigo Inglês, os substantivos tomavam desinências diferentes conforme os casos em que eram usados, isto é: as suas diferentes funções na oração. A única desinência que ainda existe no inglês moderno é a do genitivo ou caso possessivo (genitivo – caso em que nas línguas que têm declinação exprime a função de complemento determinativo, limitativo ou possessivo).
1 – Formação do Caso Possessivo
Comparem-se os seguintes exemplos com as respetivas traduções:
This is John’s book (This is the book of John)
(ðis iz dЗon z buk)
Este é o livro de João
Mary’s brother is there (The brother of Mary is there)
(´meəri z ´brΛðə r iz ðeə)
O irmão de Mary está ali
As frases entre parêntesis não são as formas mais correntes, mas ajudam-nos a compreender como se forma o caso possessivo, por corresponderem exatamente à construção portuguesa.
As conclusões são fáceis de tirar:
A –– A ordem das palavras é diferente; a palavra no caso possessivo, isto é, o nome do possuidor, deve estar antes do nome que indica o «objeto possuído».
B –– O emprego do caso possessivo torna desnecessário o uso do artigo antes do nome do objeto possuído, porque o genitivo de posse serve de determinativo.
C –– A desinência (elemento terminal de uma palavra) «’s» aposta (junto ao) ao nome do possuidor substitui a preposição «of». Esta desinência pronuncia-se como se fosse um «s» ligado à palavra.
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Leiam-se agora em voz alta as seguintes frases:
These are the manageress’s orders.
Estas são as ordens da gerente.
Mr. Jones’s house is very near.
A casa do Sr. Jones é muito perto.
Mesmo que uma palavra no singular termine em «s», pode-se acrescentar-lhe a desinência do possessivo (salvo quando se trata de excepções como veremos a seguir).
A pronúncia das palavras manageress’s e Jones’s apresenta certa dificuldade, mas lembrando-nos da formação do plural das palavras terminadas em «s», depressa resolveremos este caso pronunciando (´mænidЗəresiz) e (´dЗounziz), isto é, acrescentando oralmente uma nova sílaba às palavras. Historicamente, isto não representa um acrescentamento, mas, pelo contrário, é um caso em que a forma antiga (que terminava em -es) se conservou.
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Gilbert and Sullivan’s comic operas are very popular in Great Britain.
As óperas cómicas de Gilbert e Sullivan são muito populares na Grã Bretanha.
The Duke of Windsor’s life was published in a Portuguese newspaper.
A vida do duque de Windsor foi publicada num jornal português.
Os exemplos mostram que, quando o possuidor é representado por mais do que uma palavra, é a última que toma a desinência (elemento terminal de uma palavra) do possessivo.
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2 – Omissão (falta) do «s» no caso possessivo:
Em todos os exemplos acima apresentados o nome do possuidor estava no singular. Vejamos estas frases:
The pupils’ cloak-room is on the ground-floor.
O vestiário dos alunos é no rés-do-chão
The boys’ caps are there.
Os bonés dos rapazes estão ali.
É fácil notar que estando a palavra que indica o possuidor no plural –– plural que termina em «s» –– não se acrescenta novo «s» para o caso possessivo; apenas o apóstrofo indica o caso graficamente.
Quanto à pronúncia não se pode distinguir o plural do singular (distingue-se pelo sentido):
The boys’ caps (də boiz kæps) –– Os bonés dos rapazes
The boy’s caps (də boi z kæps) –– Os bonés do rapaz
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Mas vejamos os seguintes exemplos:
The children’s rooms are upstairs.
Os quartos das crianças são lá em cima.
The men’s waiting-room is there.
A sala de espera dos cavalheiros é ali.
This is a women’s club.
Isto é um clube de senhoras.
A conclusão é fácil: quando o plural da palavra que indica o possuidor não termina em «s», o caso possessivo forma-se da maneira normal.
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Socrates’ wife was a very clever woman.
A mulher de sócrates era muito inteligente.
Caesar was murdered by Brutus’ party.
César foi assassinado pelo partido de Bruto.
Venus’s beauty has inspired many artists.
A beleza de Vénus tem inspirado muitos artistas.
Os nomes próprios (apelido, nome de família) do singular terminados em «s» que pertencem à História Antiga ocorrem geralmente sem desinência (elemento terminal de uma palavra), podendo, no entanto, apresentá-la (como no caso de Vénus).
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Casos de eufonia:
(eufonia - som agradável ou desagradável)
Jesus’ life is told in the New Testament.
A vida de Jesus é contada no Novo Testamento.
We must obey Moses’ laws.
Temos de obedecer às leis de Moisés.
Quando a última sílaba de um nome no singular começa e termina em «s», nunca se lhe junta a desinência do possessivo, para evitar a repetição de sibilantes.
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For goodness’ sake, be quiet!
Por amor de Deus, está quieto (calado)!
I did that for my conscience’ sake
Fi-lo por amor da consciência.
Quando a palavra «sake», que começa por «s», é precedida de um possessivo terminado em sibilante este não toma novo «s» por uma questão de eufonia.
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3 – Uso do caso possessivo
O genitivo de posse:
Comparem-se os seguintes exemplos:
I must follow duty’s call.
Tenho de seguir a voz do dever.
Nobody knows heaven’s will.
Ninguém sabe a vontade do céu.
We work for the country’s good.
Trabalhamos para o bem da nação.
The legs of the table are too long.
As pernas da mesa são compridas de mais.
I’ll walk to the end of the road.
Vou até ao fim da rua.
The lid of the saucepan is broken.
A tampa do tacho está partida.
Todas estas frases estão corretas. Por que razão se empregou nas três primeiras o caso possessivo e a forma com «of» nas três últimas?
É questão de examinarmos a natureza do «possuidor» em todos os exemplos. Veremos que table, road e saucepan são nomes de coisas inanimadas, e, como tal, não podem possuir nada conscientemente. As palavras legs, end e lid não representam mais que partes destas coisas inanimadas. Por outro lado, duty, heaven e country, embora não se possam considerar seres vivos nem coisas animadas são substantivos abstratos que representam ideias animadas, e, como tal, possuem certa vitalidade. Fala-se muitas vezes na: «força do dever», no «poder do céu» e na «consciência da nação».
De um modo geral o critério a seguir é este: nomes de coisas inanimadas não se empregam no caso possessivo. Este reserva-se para nomes de seres vivos, de ideias animadas ou ainda de coisas personificadas.
Exceções:
He ate to his heart’s content.
Comeu até se satisfazer.
Yesterday´s newspapers contained nothing special.
Os jornais de ontem não traziam nada de especial.
These were last year’s fashions.
Estas eram as modas do ano passado.
He escaped by a hair’s breadth.
Ele escapou por um triz (por um fio de cabelo).
This is as large as a pin’s head.
Isto é do tamanho duma cabeça de alfinete.
Nestes exemplos figura uma série de expressões de uso muito corrente em que o antigo caso possessivo se manteve sem haver ideia de personificação.
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O genitivo que não indica nem sugere posse
After a week’s holiday he was much better.
Depois de uma semana de férias, ele estava muito melhor.
You really need a month’s rest.
Tu precisas realmente de um mês de descanso.
Give me a shilling’s worth of paper.
Dê-me um xelim de papel (papel no valor de um xelim).
It’s a day’s journey from Southampton to Edinburg.
É um dia de viagem de Southampton a Edinburgo.
That tree stands at a stone’s throw from here.
Aquela árvore está a «dois passos» daqui (à distância duma pedrada).
These scales cannot be used for more than a pound’s weight
Esta balança não se pode usar para mais de uma libra de peso.
Como se vê, o caso possessivo também se usa para especificar quantidade que pode ser expressa em ideia de tempo, medida, peso, preço, distância, etc.
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Omissão (falta) do nome do objeto possuído.
This is not my coat, it’s John’s (John’s coat)
Este não é o meu casaco, é o do João.
I bought this bag at «Selfridge’s» (Selfridge’s stores)
Comprei esta mala no «Selfridge».
I saw that play at St. James’s (St. James’s Theatre).
Vi essa peça no «St. James».
Bring me some butter from the grocer’s (the grocer’s shop).
Traz-me manteiga da mercearia.
The marriage took place at St. Paul’s (St. Paul’s Cathedral).
O casamento realizou-se em «S. Paulo»
He is living at my uncle’s (my uncle’s house).
Ele está a viver em casa do meu tio.
I had tea at the Smiths’ yesterday (the Smiths’ house).
Tomei chá em casa dos Smiths ontem.
Nestes exemplos o «possuidor» não é seguido pelo «objeto possuído». A razão é a mesma para todas as frases: é desnecessário mencionar o nome do «objeto possuído» porque se subentende (percebe).
A regra, portanto, é: omite-se o nome do «objeto possuído» quando este foi mencionado anteriormente ou quando representa uma casa particular, loja, igreja, teatro, etc., que sejam familiares ao ouvinte ou leitor.
Observação: É preciso evitar um erro muito frequente entre os nossos estudantes: a omissão (falta) da palavra house quando se faz referência à casa propriamente dita:
John’s house is larger than ours.
A casa do João é maior do que a nossa.
Aqui não se pode omitir a palavra house, porque o leitor ficaria sem saber de que objeto possuído se tratava.
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O duplo genitivo
The Double Genitive
(ðə ´dΛbl ´dЗenitiv)
That lady is a friend of my mother’s.
Aquela senhora é amiga de minha mãe.
This brother of John’s always comes late.
Este irmão do João chega sempre tarde.
I don’t like those gloves of Mary’s
Eu não gosto daquelas luvas da Maria.
A cousin of Peter’s asked me about him.
Um primo de Pedro perguntou-me por ele.
Nestas frases encontra-se um emprego muito idiomático do genitivo de posse: o duplo genitivo, o genitivo com «of» e a desinência «’s».
Este emprego ocorre muitas vezes quando o «objeto possuído» é mencionado antes do «possuidor». Nestes casos, o nome do «objeto possuído» nunca é precedido do artigo definido mas sim do artigo indefinido ou de determinativos como: this, that, these, those, another, others, etc.
Seria incorreto dizer-se: «she is the friend of my mother’s»; tem de se dizer: «She is my mother’s friend»; mas diz-se «She is a friend of my mother’s», «She is another friend of my mother’s», «She is that friend of my mother’s», frases em que a palavra friend, precedida de determinativo, foi empregada antes da palavra mother, ao contrário do que se observa na construção normal do genitivo de posse.
O duplo genitivo já existia em antigo inglês e tem sido empregado para reforçar a ideia de posse, pois como se sabe, a preposição «of» nem sempre indica posse. Muitas vezes o emprego do duplo genitivo serve para afastar certas ambiguidades de interpretação.
Comparem-se, por exemplo, estas duas frases:
This is a picture of Mary
This is a picture of Mary’s
A primeira frase significa: «este é um retrato de Mary» (um retrato que a representa); a segunda: «este é um retrato que pertence à Mary».
Do mesmo modo:
A good criticism of Pope
A good criticism of Pope’s
significam respetivamente: «uma crítica boa de Pope» (feita a Pope) e «uma critíca boa de Pope» (feita por Pope)
O duplo genitivo usa-se apenas quando o «possuidor» representa uma ou várias pessoas, sobretudo quando se trata de nomes próprios ou de palavras como «father», «mother», etc., que têm um sentido de certo modo único, porque, tratando-se de outras espécies de nomes, o caso possessivo pode muitas vezes confundir-se com o plural na linguagem falada.
Frases como:
A friend of my sister’s.
Uma amiga de minha irmã.
A colleague of my cousin’s.
Um colega de meu primo.
Na linguagem oral podem interpretar-se como:
A friend of my sisters.
Uma amiga das minhas irmãs.
A colleague of my cousins.
Um colega dos meus primos.
Ao passo que:
A friend of Paul’s.
Um amigo de Paulo.
A colleague of my father’s
Um colega do meu pai.
Não admitem confusões.
Nota: de passagem diremos que o duplo genitivo também pode ser formado com um pronome: a friend of hers (um amigo dela), a sister of mine (uma irmã minha), etc.
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O caso possessivo aplicado a pronomes e adjetivos substantivados:
Is this anybody’s umbrella?
Esta sombrinha é de alguém?
One should be allowed to express one’s opinion.
Devemos ter licença para expressarmos a nossa opinião.
Everyone’s luggage was in its proper place, except his.
A bagagem de toda a gente estava no seu lugar, excepto a dele.
This seems to be nobody’s business.
Isto parece que não diz respeito a ninguém (não é assunto de ninguém).
Oh, heavens, I must have taken someone else’s hat by mistake!
Ó céus, eu levei com certeza o chapéu de outra pessoa por engano!
Estes pronomes (ou frases pronominais) têm valor de substantivos e, como tal, admitem a desinência ’s.
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The accused’s innocence was proved.
A inocência do acusado foi provada.
Here is the deceased’s will.
Aqui está o testamento do morto.
This is a neurotic’s reaction.
Esta é a reação de um neurótico.
Embora não muito frequentemente, há adjetivos substantivados que aparecem declinados no genitivo, isto é, com a desinência s, mas em regra prefere-se a forma com of.
Os nomes gentílicos em –ese (como Portuguese, Chinese, etc.) e os terminados em –sh e –ch (como English, Irish, Scotch, etc.), assim como a palavra Swiss, não admitem a desinência do possessivo. Assim, diz-se:
The good taste of the French.
O bom gosto dos Franceses.
The discoveries of the Portuguese.
Os descobrimentos dos portugueses.
Ao passo que, se pode dizer:
The Germans’ skill.
A habilidade dos alemães.
The Americans’ inventions.
As invenções dos americanos.
The Swede’s temperament.
O temperamento do sueco.
Etc.
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O caso possessivo alternado com a preposição «of»:
Did you see the portrait of the Queen’s children?
Viste o retrato dos filhos da rainha?
The jewels of the governor’s wife were stolen.
Roubaram as jóias à mulher do governador.
Em exemplos como estes, alterna-se o emprego da preposição of com o do caso possessivo, para evitar a sequência de possessivos que se observaria em «the Queen’s children’s portrait» e «the governor’s wife’s jewels».
Nota final – Quando é preciso pluralizar letras, escrevem-se geralmente com apóstrofo e s: «the A’s and B’s» (Os AA e os BB). Não se devem confundir estas expressões com genitivos.