DISCURSO INDIRETO

Indirect Speech

(indi´rekt spi:t)

Discurso Indireto - diz-se do discurso em que se reproduz os diálogos e discursos das personagens na terceira pessoa utilizando verbos introdutórios, seguidos de oração subordinada

 

 

Quem souber transformar frases do discurso direto para o indireto, em português, saberá também fazê-lo em inglês. No entanto, como se trata de um assunto em que os nossos estudantes encontram certa dificuldade, passaremos a apontar os passos essenciais deste processo, por meio de exemplos. Referir-nos-emos apenas ao trabalho de modificação de textos, porque a reprodução do que se ouve, sendo prática a que toda a gente está habituada, não apresenta as mesmas dificuldades.

 

Suponhamos que temos de passar para o discurso indireto a seguinte frase de um trecho dialogado:

 

Mary: «I know Mr. Smith»

Maria: «Eu conheço o Sr. Smith»

 

Começamos por ter de introduzir o verbo «to say» (dizer) e podemos empregá-lo em vários tempos, conforme o sentido, ou conforme o que nos for pedido. Daqui resultam duas possíveis versões:

 

 

Discurso Indireto

 

Versão A

 

 

Mary says  (ou has said, ou is saying, ou will say)  (that) she knows Mr. Smith

Maria diz (ou acaba de dizer, ou está a dizer, ou dirá) que conhece o Sr. Smith.

 

Versão B

 

 

Mary said (ou had said, ou was saying, ou would say) (that) she knew Mr. Smith

Maria disse (ou tinha dito, ou estava a dizer, ou diria) que conhecia o Sr. Smith

 

Podemos tirar destes exemplos a primeira regra:

 

 

 

1 ) Questão do tempo verbal:

 

 

O tempo verbal a empregar depende do tempo em que está o verbo que introduz o discurso indireto.

 

 

Na versão «a)», o verbo «to say» está nos tempos do presente ou no futuro e, por isso, o verbo «to know» mantém-se no presente, isto é, no tempo em que foi empregado pela interlocutora.

interlocutor - aquele que conversa com outro

 

Na versão «b)», o verbo «to say» está em tempos do pretérito ou do condicional e, consequentemente, o verbo «to know» teve de passar para o pretérito.

 

 

 

Vejamos mais exemplos que ilustrem a lei da sequência dos tempos verbais:

 

Discurso direto e

Discurso indireto

 

John:

 

I am writing to my brother

John said (that) he was writing to his brother

 

I wrote to my brother

John said (that) he had written to his brother

 

I have just written to my brother

John said (that) he had just written to his brother

 

I was writing to my brother

John said (that) he had been writing to his brother

 

I have been writing to my brother

John said (that) he had been writing to his brother

 

I shall write to my brother

John said (that) he would write to his brother

 

Verificamos, portanto, que, se o verbo que introduz o discurso indireto estiver no pretérito, a correspondência dos tempos verbais é a seguinte:

 

Estando no:

Passam para o:

 

Present continuous

Past continuous

 

Past simple

Past perfect

 

Present perfect

Past perfect

 

Past continuous

Past perfect-continuous

 

Present perfect-continuous

Past perfect-continuous

 

 

Future

Conditional

 

É fácil notar que, tal como acontece em português, o facto de transpormos a ação para o passado, no discurso indireto, obriga a que os tempos empregados no texto se tornem mais remotos/antigos. Se o verbo estivesse no «past perfect-continuous» (I had been writing), como o tempo não se poderia tornar mais remoto, ficaria na mesma forma (he had been writing). Todos os futuros passam para condicionais (futuros no passado).

 

 

 

 

Vejamos agora outros pontos importantes:

 

Discurso direto

Discurso indireto

Mary:

 

I know you, but I don’t know your sister

Eu conheço-te (conheço-o, -a, -os, -as, -vos) mas não conheço a tua (sua, vossa) irmã

 

Mary said (that) she knew him (her, them), but she did not know his (her, their) sister

Maria disse que o (a, os, as) conhecia, mas não conhecia a irmã dele (dela, deles, delas).

 

 

2 ) Questão dos pronomes pessoais e dos adjetivos e pronomes possessivos:

 

 

Conforme se vê nestes exemplos, as primeiras e segundas pessoas dos pronomes transformam-se, na passagem para o discurso indireto, em terceiras pessoas. Mas como a terceira pessoa pode ter várias formas (masculina, feminina, singular, plural), é preciso verificar, no texto que nos for apresentado, quais são as formas que convém escolher, de acordo com a identidade dos interlocutores.

 

Nos exemplos apresentados, a escolha das variantes entre parêntesis dependeria da identidade da pessoa ou pessoas a quem «Mary» se dirigisse.

 

 

3 ) Questão da conjunção integrante «that»:

 

A conjunção integrante «that» encontra-se entre parêntesis em todos os exemplos dados até aqui porque se pode suprimir quando se lhe segue imediatamente o sujeito da oração que introduz.

 

 

 

 

 

 

Estudemos agora novos exemplos, para a observação de outros pontos:

 

Discurso direto

Discurso indireto

 

Henry: I will bring you the book tomorrow

Henrique: Trazer-te-ei (trago-te) o livro amanhã

Henry said (that) he would bring him the book (on) the following day (on the next day).

Henrique disse que lhe traria (trazia) o livro no dia seguinte

 

 

Peter: «Can’t you bring it today, Henry?

Pedro: Não o podes trazer hoje, Henrique?

Peter asked Henry if he could not bring it on that day.

Pedro perguntou a Henrique se não o podia trazer nesse dia.

 

 

Henry: «Oh, don’t be so impatient, Peter! I shall be very busy this evening, I can’t come here again».

Henrique: Oh! Não sejas tão impaciente, Pedro! Eu vou estar (estarei) muito ocupado esta tarde, não posso vir cá outra vez.

Henry told Peter not to be so impatient. He would be very busy that evening, he couldn’t go there again.

Henrique disse a Pedro que não fosse tão impaciente. Ele estaria muito ocupado nessa tarde, não podia ir lá outra vez.

 

4 ) Questão do verbo que introduz o discurso indireto em orações interrogativas, exclamativas, imperativas, etc.

 

a ) Quando reproduzimos uma pergunta, o verbo que introduz a frase deve ser «to ask» (perguntar) e não «to say» (dizer)

 

b ) Quando se trata de um conselho ou uma ordem, deve-se empregar «to tell» ou «to order» (no caso de uma ordem formal), sendo estes verbos acompanhados de um infinito. (Ver «O infinito, substituto do modo conjuntivo»).

 

 

Estes verbos podem não ocorrer no texto que apresenta o discurso direto, mas temos de os introduzir no discurso indireto, em substituição dos pontos de interrogação e de exclamação. Podem-se introduzir ainda outros verbos, como

to exclaim

exclamar

to protest

Protestar

To repeat

Repetir

To retort

Retorquir

To state

Afirmar

To remark

Observar

Etc. …

conforme o sentido da frase e ainda para evitar a repetição dos mesmos verbos, tornando o estilo mais elegante.

 

 

 

5 ) Questão das expressões de tempo:

 

 

Quando, no discurso direto, ocorrem expressões de tempo como «today» (hoje), «tomorrow» (amanhã), «now» (agora), etc… evidentemente que essas expressões não se podem manter no discurso indireto, porque perdem a sua atualidade. Substituem-se por outras, a saber:

 

Em vez de,

Diz-se:

 

Now

Agora

At that moment

Nesse momento

 

 

 

 

Today

Hoje

On that day

Nesse dia

 

Tomorrow

Amanhã

(on) the following day

(on) the next day

No dia seguinte

 

Yesterday

Ontem

On the eve

Na véspera

(on) the day before

(on) the previous day

No dia anterior

 

The day after tomorrow

Depois de amanhã

The day after the next

Dois dias depois

 

The day before yesterday

Antes de ontem

The day before the previous one

Dois dias antes

 

Two days ago

Há dois dias

Two days before

Havia dois dias

Dois dias antes

 

A week ago

Há uma semana

A week before

Havia uma semana

Uma semana antes

 

As expressões com «next» e «last» (last week – a semana passada; next year – no próximo ano) podem-se manter.

 

 

 

6 ) Questão dos advérbios de lugar e dos pronomes e adjetivos demonstrativos:

 

 

Expressões como «this» (este) e «here» (aqui) não se podem manter no discurso indireto, porque a pessoa que reproduz o que leu não está no mesmo lugar que os interlocutores do texto. Assim, «this», substitui-se por «that» (esse, aquele) o mesmo sucedendo aos plurais respetivos. A «here», corresponde «there» (ali, lá) no discurso indireto, ou outras expressões, quando o sentido exigir maior clareza. Pelas mesmas razões, o verbo «to come» (vir) substitui-se geralmente por «to go» (ir).

 

 

7 ) Questão do vocativo e das interjeições:

Vocativo - palavra ou expressão que serve para chamar;

 

Examinando os exemplos dados, ver-se-á que os vocativos «Peter» e «Henry» não aparecem no discurso indireto. Isto é compreensível, visto que o vocativo é uma expressão que se emprega apenas quando dirigida pela pessoa que fala à pessoa que ouve, ou quando se repete exatamente uma conversa, isto é, no discurso direto.

 

 

São estes os pontos essenciais a considerar quando se muda um texto do discurso direto para o indireto.

 

 

Vejamos a aplicação destas normas no trecho que se segue:

 

«A strange pair of boots»

«A gentleman had a very stupid man-servant and one day he called him and said «Bring up my boots, will you Paul?». When the servant returned, he said angrily: «Good Heavens, what is this you have brought, Paul? This is not a pair! One is a boot and the other a shoe!»

«It surprised me very much too, Sir», said the man-servant, «and what surprised me more is that I have another pair just like this one downstairs.»

«Um senhor tinha um criado muito estúpido e um dia chamou-o e disse: Traz-me as minhas botas, sim Paulo? Quando o criado voltou, ele disse, zangado: Valha-me Deus, o que é isto que tu trouxeste, Paulo? Isto não é um par! Um é uma bota e o outro um sapato!

«Isto admirou-me muito também, senhor – disse o criado – e o que me admirou mais foi eu ter outro par exatamente como este lá em baixo!»

 

Discurso Indireto

 

 

«A strange pair of boots»

A gentleman had a very stupid man-servant and one day he called him and told him to bring up his boots. When the servant returned, he asked him angrily what was that he had brought, and exclaimed that that was not a pair. One was a boot and the other a shoe.

«The man-servant replied that it had surprised him very much too, and what had surprised him more was that he had another pair just like that one downstairs.

«Um senhor tinha um criado muito estúpido e um dia chamou-o e disse-lhe que lhe trouxesse as (suas) botas. Quando o criado voltou, ele perguntou-lhe zangado o que era aquilo que ele tinha trazido, exclamando que aquilo não era um par. Uma coisa era uma bota e a outra um sapato.

«O criado respondeu que isso também o tinha admirado muito, e o que o tinha admirado mais tinha sido ele ter outro par exatamente como aquele, lá em baixo.»

 

(Ainda por corrigir)